Caderno Saúde

Janeiro é o mês de alerta para a hanseníase no Brasil

Estigmatizada por centenas de anos, a doença bacteriana tem cura e exige um diagnóstico rápido para evitar consequências graves aos portadores

Foto: Divulgação - DP - Falta de sensibilidade nas mãos faz com que múltiplas lesões possam surgir

Por Heitor Araujo
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Desde a Idade Média até meados do século passado, a hanseníase despertou preconceito e foi uma doença cujos portadores sofreram com a falta de informações e conhecimentos mais precisos. Chamada no passado de lepra, termo que carrega um cunho pejorativo, por centenas de anos os portadores da bactéria Mycobacterium leprae (ou bacilo de Hansen) foram submetidos a um isolamento com ares de exílio pelo resto de suas vidas. A hanseníase tem cura, mas especialistas e enfermos continuam com a missão de enterrar velhos mitos e dar fim à estigmatização da doença.

O mês de janeiro é simbólico na luta contra a hanseníase: consta no calendário da saúde nacional o Janeiro Roxo, de conscientização sobre a doença que há décadas tem cura, mas que pode causar lesões graves em quem não procura o diagnóstico e recebe o tratamento adequado, sem que aconteça o isolamento do paciente, método abandonado no Brasil em meados do século 20. O dermatologista Hiram Larangeira, professor titular da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e professor adjunto da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), explica que a hanseníase é causada por uma bactéria do mesmo grupo da tuberculose e “caracteriza-se por uma infiltração na pele e lesão no nervo, que faz com que a pessoa perca a sensibilidade nas mãos, pés e, dependendo, na pele toda”, de acordo com o médico. 

Há duas formas de manifestação da hanseníase: a localiza da, na qual restringe-se a uma parte do corpo e não é contagiosa, e a disseminada, que é “altamente contagiosa, porque a pessoa tem o bacilo pelo corpo inteiro”, segundo Larangeira. “É a resposta imunológica do indivíduo que determina qual das duas formas da doença atinge a pessoa”, afirma o dermatologista. Apesar de ser o estado que apresenta índices mais baixos de contaminação de hanseníase, o Rio Grande do Sul está entre os que há mais casos de lesões graves como consequência da doença, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Essas lesões, de acordo com Larangeira, não são causadas propriamente pela bactéria, mas sim pelos traumas decorrentes da perda de sensibilidade. “A pessoa pode ficar com a mão anestesiada, aí ela pode se queimar cozinhando e não sente, ou usa um sapato apertado e não sente, faz uma úlcera que perfura o pé”, exemplifica o médico. Pode acontecer, então, o que se chama de reabsorção óssea, ou um trauma de repetição. 

As lesões constantes no osso têm como consequência a encolha dos dedos das mãos ou dos pés. Por isso a importância do diagnóstico, que pode ser feito via biópsia, e o encaminhamento do paciente ao atendimento especializado. “Quando é feito o diagnóstico, encaminha-se o paciente a setores que orientam os cuidados que o indivíduo deve ter para evitar essas lesões”. 

BRASIL NO MAPA DA HANSENÍASE

Mapa: Guilherme Bueno - DP

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021 foram registrados mais de 140 mil casos de hanseníase no planeta, sendo 13% no Brasil, um total de 18 mil, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde. É o segundo com maior incidência da doença, atrás apenas da Índia. Os dois países, aliados à Indonésia, representam 80% dos casos no mundo. Os estados que concentram mais casos em relação ao número de habitantes estão na Região Centro-oeste, Nordeste e Norte, enquanto Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os menos afetados.

NO RIO GRANDE DO SUL

O Rio Grande do Sul foi o primeiro estado no Brasil a atingir a Meta da Eliminação da Hanseíase, em 1995 (quan do a taxa de contaminação é inferior a 1 a cada 100 mil habitantes), segundo a SES. No entanto, a avaliação dentro da secretaria é de que tal feito levou à interpretação errônea de que a doença estava erradicada. Atualmente, há uma tendência de queda nos índices de contaminação, contrariando a tendência nacional. Em 2023, a estimativa do governo estadual é de 67 novos casos, 22 a menos do que em 2022, quando
foram 88, e 26 a menos do que em 2021, que teve 93 casos. 

Na contramão dos baixos números de transmissão, no entanto, o Rio Grande do Sul apresenta alta taxa de pacientes que atingiram o Grau 2 de incapacidades em decorrência da doença: índice de 24% em 2021. 

ZONA SUL

Dentro do Estado, a Zona Sul é uma das regiões menos afetadas pela hanseníase. Nos últimos cinco anos, foram sete casos registrados. O dermatologista Hiram Larangeira relata que, em 30 anos de profissão, fez apenas dois diagnósticos. Em Pelotas, apenas um caso foi registrado neste período, em 2022, e o paciente já recebeu alta. Aline Machado, diretora do departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Pelotas, explica que
o Atendimento Primário, via Unidade Básica de Saúde (UBS), é a porta de entrada para os pacientes suspeitos de hanseníase, com o encaminhamento ao atendimento especializado para o diagnóstico. 

“Estamos sempre em alerta a este agravo, especialmente por parte da vigilância epidemiológica visto que a hanseníase consiste em um agravo de notificação compulsória, e de impacto na saúde pública”, afirma a diretora.





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